O Ladrão De Sonhos

Publicado em Desenvolvimento Pessoal

Com certeza já ouviste a expressão “Ladrões de Sonhos”, referindo-se às pessoas que pretendem impedir-te de realizares os teu objectivos. Se não tinhas ouvindo ainda esta expressão, eu explico:

Um ladrão de sonhos é alguém que gosta de ti, por exemplo o teu pai, mãe, irmãos, amigos, esposa ou marido, e que te quer proteger. Por isso, quando tencionas fazer alguma coisa “fora do normal”, fora da segurança da rotina, eles tentam “meter-te juízo na cabeça”. Estás familiarizado com isto? Se tens um negócio em Marketing de Rede seguramente estás.

Contudo, o maior Ladrão de Sonhos não está em nenhuma dessas pessoas, nem no governo, nem na conjuntura, nem na crise.

O teu sabotador é insidioso, voa abaixo do radar e faz estragos incríveis, sem sequer chegar a ser identificado. Quando comparado com ele, o teu pior inimigo é um gatinho de mama.

Afinal quem é ele? És tu. Sim, tu.

Uma parte de ti tem medo, e é essa parte que faz tudo o possível e o impossível para que não consigas realizar os teus sonhos. Sim. Medo. Se vives na mesma sociedade em que eu vivo, foste, como eu, formatado para a “normalidade”. Ser como os outros em tudo, e se possível, melhor em tudo: nas notas da escola, na roupa, no tipo de comportamento, no politicamente correcto, nos gostos em música, comida, passatempos, nas séries de tv e filmes, política, religião e até nas formas de ganhar a vida.

Um salário é aceitável. E se for baixo, melhor ainda, pois tens a simpatia de toda a gente. Trabalhar 8 horas por dia é aceitável, mas se trabalhares 12 é melhor ainda. “Pobrezinho, mas honrado.”

Temos de estar em conformidade com o “normal”, e se possível excedermo-nos na normalidade. Por isso temos tantos medos. Sempre que surge a possibilidade de fazer algo ou ser alguém ou de ter alguma coisa a-normal, uma parte de nós fica aterrorizado.

Por exemplo, o preconceito de que o dinheiro é mau, ou que faz as pessoas más, leva-te a ter medo de ser próspero. Se ganhares muito mais do que todos os que te rodeiam, deixarás de ter a sua simpatia e passas a ser alvo da sua inveja.

Pelo facto de não teres um “emprego” tradicional, colocam-te o rótulo de “não faz nada na vida”. Não ter um rendimento “estável” é tido como de alto risco, e tu mesmo o entendes assim.

Por isso, quando começas a ter algum sucesso, os sinais são positivos, o teu Dia está a urgir no horizonte, se fores uma pessoa comum, irás arranjar uma forma de te auto-sabotares, para ficar tudo como estava.

Não penses que és o único, ou a única. Não. Nesse aspecto também eu posso falar por experiência própria.

Esse sabotador, esse verdadeiro Ladrão de Sonhos, não aparece somente no momento da tomada de grandes decisões. Se a decisão for suficientemente grande até pode ser que ele fique caladinho para não dar nas vistas. Diz sim a tudo. Diz-te para aproveitares a oportunidade, deixa-te sonhar acordado, ter um plano de acção, uma sequência de tarefas, de telefonemas, de contactos a realizar, enfim, deixa-te fazer tudo isso no papel.

Deixa-te ter ideias, arrumá-las, organizá-las. Deixa-te ficar entusiasmado ou entusiasmada e até te deixa começar a trabalhar, a fazer as coisas funcionarem. Mas, assim que tiver passado a excitação do momento, começa a falar contigo, com voz mansa:

“Boa! Bom trabalho. Conseguiste fazer quase metade do que tens para fazer agora, mereces bem um descanso”.

“Os telefonemas? Faz isso depois, ainda é cedo” ou “agora é tarde, fica para amanhã”.

“Que bela ideia! Não precisas de a executar agora, não tens sede? Não precisas de ir à casa-de-banho?”

“És o máximo. Mereces bem um descansozinho.”

“Mas quem é que ele pensa que é sempre a pedir ajuda? E quem é que te ajuda a ti?”

“Fantástico, achaste uma solução! Podes bem ir tomar um café ou algo assim. Tu mereces!”

Repara bem que o teu Ladrão de Sonhos nunca contesta as coisas que tu decides, nunca te diz que não. Diz sempre “muito bem”, “és o máximo”. Mas, em seguida, desfoca-te da acção necessária e assim torna inconsequentes as tuas decisões.

Eu treinei os olhos para conseguir vê-lo através da camuflagem: sempre que estou a iniciar alguma coisa útil para o meu propósito de vida, lá vem ele, com falinhas mansas, a massajar-me o ego e a mandar-me fazer outra coisa, normalmente agradável.

Este post, por exemplo, comecei-o 3 vezes. Da primeira vez, escrevei o título “o sabotador” e comecei a procurar uma boa foto para ilustrar a ideia. Eu gosto de procurar fotos, sendo designer gráfico, tenho especial predilecção por essa parte do trabalho de blogueiro. Gastei 2 horas, reuni umas 3 ou 4 fotos boas. Quando comecei a sentir que talvez estivesse a procrastinar a escrita, escolhi uma das fotos, mais ou menos ao acaso e voltei ao teclado. Escrevi mais um pouco, apaguei, mudei o título para “Ladrão de Sonhos” e decidi-me pela ideia vencedora. Tinha finalmente um artigo estruturado na cabeça. Comecei a escrevê-lo? Não.

Fui à casa de banho. Tinha vontade? Sim, um pouco, mas poderia muito bem ter esperado uma meia hora até ter terminado. Não esperei. Depois fui à cozinha fazer um café e voltei determinado a concluir o artigo.

Foi uma boa experiência, não rara, destes ataques do meu Ladrão Pessoal de Sonhos. Felizmente eu acabo sempre por ganhar, não sem perdas de energia e de tempo. Enquanto estou a sofrer dos seus ataques tenho perfeita noção de estar sob ameaça.

Contudo arranjei uma forma de ultrapassar sempre esse bandido. Como? Dando-lhe uma boa dose do seu próprio remédio:  Procrastinar a procrastinação: “ceder um pouco sim, mas não agora, daqui por 10 minutos, é só fazer mais uma chamada, ou escrever mais um parágrafo, ou terminar mais uma ideia”.

Deste modo o meu ladrão de sonhos fica mais domesticado, pelo menos nas coisas prosaicas do dia-a-dia, naquelas coisas que até podem parecer que não têm muita importância mas que, tu e eu sabemos, encerram a qualidade do nosso futuro.

Presta um pouco menos atenção aos chamados “ladrões de sonhos” que estão à tua volta e toma cuidado com o teu Ladrão Pessoal de Sonhos que está sempre à espreita, à espera para te sabotar.

Por  seis digitos.com